quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Já escreveu uma carta hoje?

Por Helloise Mota
Originalmente publicado na Revista 21.
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A comunicação a distância nunca foi tão fácil e rápida. Inúmeras redes sociais, celulares, aplicativos de mensagens instantâneas e emails dão conta do recado, literalmente. Mas nem sempre foi assim. Houve um tempo em que o telegrama era o que havia de mais rápido e moderno. Outro em que as pessoas precisavam esperar longas viagens de homens que, a pé ou a cavalo, passavam pelos mais diversos caminhos para levar a informação àqueles que ansiavam por ela, por meio de cartas.
Mas e nos dias atuais? Será que alguém envia cartas? “Claro! Todo mês recebo várias cartas. Cada uma com um código de barras e um valor a ser pago”. Não é disso que falo.
No final do século XVI, havia especialistas prontos para traduzir em palavras os sentimentos dos seus clientes por meio de seu tinteiro e pena, em Portugal. Textos encontrados na Biblioteca Nacional de Portugal evidenciam que até mesmo alguns rituais eram seguidos para escrever belas cartas de amor naquela época. As mulheres se faziam de difíceis respondendo ao seu admirador apenas a partir de sua terceira carta. Correspondências saudosas contavam com o auxílio de dois tinteiros, um de tinta e outro contendo água, sendo aquele para a escrita e este para as “lágrimas” de saudade, responsáveis por borrar a escrita e deixar claro o sentimento.
Hoje, o hábito de enviar cartas é bem menos comum, mas a prática ainda não foi extinta. Ana Carolina de Lira, assistente administrativa, 23 anos, trocava cartas com sua atual namorada meses antes do início do relacionamento. Segundo Ana, a demonstração pareceu mais verdadeira desta forma do que simplesmente enviar um email ou telefonar. Já Caroline Pires, estudante, 20 anos, confessa que já teve vontade de enviar cartas pelos Correios, mas desistiu por receio de que a pessoa achasse brega. De acordo com Caroline, algumas pessoas tem preconceito a respeito desta prática.
Crianças parecem mais propensas a enviar correspondência. Eu mesma já recebi várias dos meus primos quando eles eram mais jovens. Gabriela Andrade, estudante, 22 anos, contou que já utilizou o serviço para enviar um cartão, um desenho e um vale presente para a sua mãe às vésperas do Dia das Mães, quando ainda tinha 7 anos. Já Camila Nogueira, professora, 21 anos, costumava enviar cartas para seus parentes de outra cidade quando mais nova. Hoje não vê mais necessidade, já que com a internet tudo ficou mais fácil, e até a sua avó de 90 anos tem conta no Facebook. Inclusive acharia estranho caso recebesse alguma carta, mas gostaria.
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No meio de tanta gente com quem conversei, encontrei Carolina Benazzato, escritora, 18 anos, uma assídua cliente dos Correios. Envia aos seus amigos, mesmo àqueles que moram a não mais que 15 minutos dela, desde cartas comuns e cartões de Natal e aniversário até poemas e livros. Ela conta que se expressa melhor através de palavras escritas. Para ela, uma das coisas mais gostosas no envio de cartas é a expectativa. Enviar a carta, esperar ansiosamente por sua chegada e depois por sua resposta, de fato, é muito gostoso. Carolina troca cerca de 50 cartas por ano, inclusive com homens, embora sejam minoria em sua lista de correspondentes.
Segundo ela, o fato de tocar o papel no qual a pessoa tocou alguns dias antes a faz sentir-se próxima da mesma. Com um namorado morando a mais de 1800 km de mim eu sei bem o que isso significa. Procuro sempre enviá-lo cartas e também já recebi correspondências dele. Já mandei presentes, cartas e outras coisas mais singelas, como um desenho ou um beijo. Sim, um beijo. Uma vez, passando em frente aos Correios, comprei um envelope, passei batom, beijei um papelzinho e o enviei. Ele gostou da surpresa.
Além de ser um hábito muito bonito, o envio de cartas aproxima as pessoas e demonstra sentimento através da arte da palavra escrita de uma forma que nem sempre conseguimos expressar por meio da fala. Não importa se a escrita demonstra amor, amizade, arrependimentos ou declarações. Tudo fica mais claro e profundo por meio da escrita. E se você não escreve bem, esta pode ser uma excelente prática.
Inspire-se! Nem sempre sabemos bem o que escrever em cartas. Principalmente aqueles que não têm costume de enviá-las. Livros como A Última Carta de AmorSó Entre Nós – Abelardo e HeloísaAs Vantagens de Ser Invisível e Para Sempre podem inspirá-los. O mesmo para os filmes Cartas para JulietaP.S. Eu Te Amo e Cartas para Deus.
Não sabe a quem escrever? Envie uma carta a alguns de seus amigos e aguarde a reação deles. Ou mostre este texto aos mesmos e veja se consegue empolgá-los a fazer o mesmo. Se não der certo, a internet nos dá a solução. O site Trocando Cartas cadastra pessoas que querem se corresponder e os endereços residenciais são trocados por email. Já o International Pen Friends, como o próprio nome diz, destina-se a promover interações internacionais em seis diferentes idiomas. Este último serviço é pago e conta com sócios de 8 a 90 anos. A assinatura do serviço é válida por um ano e a troca de correspondências é realizada com 14 pessoas. Neste caso, por questões de segurança, aconselho que o serviço de Caixa Postal dos Correios seja contratado. Assim não será necessário expor seu endereço residencial.
Onde escrever? O importante são as palavras, não o papel. Mas há quem prefira escrever em papeis bonitos, delicados e inspiradores. Você pode encontrá-los tanto em sites como Mercado Livre, quanto em lojas virtuais especializadas, como a Encanto de Papel e a Paraíso dos Papeis de Carta. Também não é difícil encontrar papeis para download e impressão na busca de imagens do Google.
E então, o que está esperando? Mãos à obra!

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